quarta-feira, 13 de maio de 2015

Empate - Vinícius Neves Mariano - Ed. Simonsen


Encontros inesperados e inusitados (quase) sempre rendem boas histórias. Nesse caso, rendeu uma história maravilhosa, daquelas que a gente termina de ler com um suspiro profundo, fecha o livro e continua pensando, pensando, pensando...

Na final da Copa do Mundo de 1950, o Maracanã foi inaugurado com 200 mil pessoas torcendo pelo título inédito do Brasil. O favoritismo era latente e o Uruguai parecia um adversário fácil. No meio do coro ensurdecedor dos torcedores, um deles tinha o desejo oposto: de que o Brasil perdesse, para que o sofrimento de todos a sua volta confortasse, pelo menos um pouco, sua alma sofrida de quem foi para uma guerra que não era sua e voltou com um corpo que não funcionava como antes e um coração partido.

Porém, minutos antes de a partida começar, Aureliano - o ex-combatente que torcia contra o Brasil - cai num fosso e, por conta do barulho da torcida, entende logo que só conseguirá ser resgatado e pedir ajuda depois que o jogo terminar. Mas ele não esperava que Monarco, um dos pedreiros responsáveis pela construção do Maracanã, também acabasse no fosso do estádio. A última coisa que o amargo Aureliano queria era ter que conviver durante quase duas horas com um feliz, bondoso e simplório torcedor que, além de tudo, adorava falar.

Ao ler a sinopse, achei que duas horas em um fosso não poderiam render grandes acontecimentos. Imaginava que o livro seria arrastado em alguns momentos, inevitavelmente. E, nossa, como eu estava enganada! O livro vai e volta para o passado, conta passagens da guerra e vai construindo, aos poucos, os personagens ricos que estão ali, presos, tendo que imaginar o que está acontecendo em campo. O jogo, no fim das contas, foi o de menos.

A obra é de uma qualidade singular, muito bem construída, com personagens extremamente ricos e complexos que fazem a gente se apegar e perceber Monarcos e Aurelianos em todos nós. É um livro que fala, principalmente, de redenção. É daquelas obras que acaba sem terminar. Fiquei horas pensando sobre a história depois de fechar o livro e sofri daquela abstinência que sempre toma conta de mim quando termino boas histórias. Aquela vontade de que houvesse pelos menos mais umas 200 páginas para continuar a experiência, sabe?

Se o livro de estreia do autor foi assim, fico imaginando 1. como serão os outros, já que dizem que os autores vão ficando cada vez melhores a cada lançamento e 2. como ainda falta muito para eu estar preparada para escrever um livro realmente bom.

Empate é um livro rápido de ler e que vale cada linha. Não percam. É leitura mais que obrigatória com certeza! :)

Sobre o Autor

Naquele carnaval de 1985, entre piratas, fadas, cavaleiros, princesas e super-heróis, o doutor recebeu o chamado urgente. Estava ainda fantasiado de Zorro e também um pouco embriagado quando fez o parto de Vinícius Neves Mariano. Talvez seja essa a razão da paixão do menino por histórias. Durante a infância, colecionou memórias inventadas que coletava da família e dos conhecidos.

Aprendeu a ler e passou a fabricar os próprios mundos. E como seus mundos também demandavam histórias, descobriu que ele mesmo poderia escrevê-las. Escrevendo cresceu e se inventou. Deixou as Minas Gerais sem que elas nunca o deixassem.

Formou-se publicitário, redator criativo. Escreveu para algumas das maiores agências do Brasil antes de arriscar algumas palavras na TV, parágrafo em que está agora. É apaixonado por livros e adora saborear palavras africanas, terra-mãe da contação de histórias. Por admiração e inveja dos grandes contadores, especializou-se em roteiro de cinema e televisão, onde segue escrevendo por paixão e profissão.

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