segunda-feira, 26 de abril de 2010

Amor de Perdição - Camilo Castelo Branco - Martin Claret


O livro foi escrito em 1862 e continua sendo um exemplo do puro romance que agrada mulheres de todas as idades. Cheio de tragédia e sofrimento, o livro é leitura obrigatória para quem vai prestar vestibular ou para quem quer conhecer melhor os clássicos da literatura portuguesa.

Ao pesquisar sobre a obra, soube que, segundo Castelo Branco, o livro foi escrito em 15 dias em 1861, quando ele estava preso na cadeia da Relação, na cidade do Porto, por ter se envolvido em questões de adultério. Ou seja, dom é dom! :)

O livro trata de um assunto muito recorrente nos clássicos românticos: dois jovens apaixonados que pertencem a famílias rivais. O livro é narrado por um sobrinho do personagem principal.

A história se passa em Viseu, no século XIX. Lá, as duas famílias, os Albuquerques e os Botelhos, tornam-se inimigos por conta de um litígio em que o corregedor Domingos Botelho deu ganho de causa contrário aos interesses dos Albuquerques. Simão é um dos cinco filhos do corregedor e apaixona-se por Teresa, filha do inimigo de seu pai.

A partir daí, Simão, que começa a história como um jovem explosivo, encrenqueiro e que chegou até a ser preso torna-se um herói, com nobres atitudes e temperamento perfeito, tudo por causa do amor que sente por Teresa.

O drama começa quando as famílias descobrem o namoro. Aí entram em cena o sofrimento, as correspondências, a obrigação de Teresa casar-se com um pretendente ou ir para um convento e até uma apaixonada por Simão que, de tanto amor que sente, prefere ajuda-lo a ficar com Teresa do que vê-lo infeliz.

Não vou contar detalhes da história, mas o nome já diz que o amor, pelo menos no livro, leva somente à perdição de todos que o sentem. É drama da maior categoria, exagerado ao extremo, carregado de dor e desespero. Mas, eu adorei! Adorei me transportar para aquela época e lembro que, quando comecei a ler, não consegui desgrudar do livro até chegar à última página.


Sobre o Autor

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa a 16 de Março de 1825. Camilo foi registado como filho de mãe incógnita, pelo que se diz, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de tão humilde condição. A morte do pai obrigou-o a ir viver em Trás-os-Montes.

Como era uma criança sensível e muito inteligente, vai sofrer grandes perturbações com todos os acontecimentos da sua infância. Ao longo da sua existência revelou-se um fracassado nos estudos e nos amores. As vicissitudes da vida fazem-lhe crer que a fatalidade e a desgraça são destinos dos quais não pode escapar.

Foi um profissional das letras multifacetado, cuja obra o posicionou com uma das figuras mais eminentes da literatura portuguesa. Suicidou-se a 1 de Junho de 1890, na freguesia de Ceide, Vila Nova de Famalicão.


Onde comprar

Os lugares mais baratos que encontrei foram: Americanas, por R$ 9,49 e Submarino, por R$ 9,90.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

1 ano do Leitura, Dia Mundial do Livro e Resultado da Promoção!



Ufa, quanta coisa!!!

Mas, é isso mesmo: hoje éu m dia ESPECIAL, com miúscula.

O Leitura (mais que) Obrigatória veio, há exato um ano, para compartilhar na grande rede a minha paixão pela leitura. Conheci pessoas especiais (mesmo que virtualmente), exercitei minha maior paixão (escrever) e li muito, mais do já havia lido em qualquer outro ano da minha vida. Foi um ano especial, repleto de mudanças e realizações.

Estou muito feliz de completar um ano aqui com vocês e posso dizer que, no balanço geral de tudo, valeu a pena. E como valeu!!! :)

Mas, vamos às novidades...

Dia Mundial do Livro

Foi exatamente no Dia Mundial do livro de 2009 que lancei o Leitura. Tinha data melhor? Eu tava confiante que aquele era mesmo o melhor dia para começar um blog de sucesso. Lembra do meu primeiro post??? Gente, parece que foi ontem!

Resultado da Promoção

Samir e eu lemos e relemos as frases, todas muito legais. Adoramos as participações e ficamos muito felizes de saber que tanta gente está curiosa para ler os livros. Ambos são ótimos, eu garanto! :)

Mas, sem mais delongas....

A felizarda que vai receber os dois livros de Samir no sucesso de sua residência é....

Lilian Hatori Colella


Parabéns!!!!!

A frase da Lilian foi:

"Por um amor proibido já enfrentei meus pais, já venci o tempo e o cansaço e já fiz de uma distância um mero passo".

E, nas palavras do Samir:

"Além de verdadeira, achei a frase poética".

Arrasou, Lilian!!! :)

Estou te mandando um e-mail AGORA para pegar seu endereço, ok?

Pessoal, amei fazer essa promoção! Espero em breve lançar outra promoção!!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Está lançada a Promoção "Amor Proibido" (ou O Leitura faz um ano!!! Vamos comemorar!!!)

Depois de publicadas as três partes da entrevista com Samir Thomaz (se você perdeu, não deixe de ler a Parte 1, depois a Parte 2 e então a Parte 3), vem aí a promoção que, na verdade, é um concurso cultural recheado com 2 prêmios super legais!

Não fique de fora e venha comemorar comigo o primeiro ano do Leitura!

  • COMO PARTICIPO?

Para ganhar, basta você deixar um comentário com uma frase contando: O que você já fez por um amor proibido?

  • COMO SERÃO ELEITOS OS VENCEDORES?

Eu e o Samir vamos ler todas as frases e escolher a melhor e mais criativa.

  • O QUE EU GANHO?

O grande vencedor receberá, em sua casa, os livros que serviram de tema para a entrevista que fiz com Samir aqui no blog: Meu Caro H e Te Espero o tempo que for. Eles chegarão pelo correio com dedicatórias capricahadas. Olha aqui as que ele escreveu para mim. :)

  • REGRAS

O concurso só vale para residentes no Brasil. No final do comentário, deixe seu e-mail, para que eu entre em contato e pegue seus dados de entrega, caso você seja o vencedor. Depois do resultado, levaremos até 30 dias para enviar os presentes.

  • DATA

O concurso começa A-G-O-R-A e segue até o dia 23 de abril, dia em que o Leitura (mais que) Obrigatória completará 1 ANO e que o planeta comemora o Dia Mundial do Livro!!!! :)

Lembra do meu primeiro post? Nossa, parece que foi ontem!

Vem comemorar comigo, participe! :)

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Entrevista com Samir Thomaz - Parte 3

Olá, pessoal! Com vocês, a terceira e última parte da entrevista! :)

Espero que vocês tenham gostado! Eu e o Samir ficamos muito gratos pela participação de todo mundo. Os comentários foram diversos e extremamente ricos.

Semana que vem, na quarta-feira, lanço a promoção. Quem ganhar vai poder conhecer toda a história de vida do Samir, porque o prêmio serão dois livros: Meu Caro H e Te espero o tempo que for.

Agora, sem mais delongas, curtam a terceira parte e deixem suas opiniões!!

11 - Você ainda acha que a Liliane era o amor da sua vida?

A Liliane “é” o amor da segunda metade da minha vida, ou seja, da minha vida atual. O amor da primeira metade foi a Naide, uma pessoa que faz parte da minha história e que virou uma grande amiga. O fato de eu e a Li termos terminado não significa que eu não a ame mais. Uma história como a que vivemos é algo marcante. Eu penso nela em todos os instantes do dia e adoro quando o celular toca e eu vejo no visor que é ela quem está ligando. Acho que essa história ainda está acontecendo, só que de outra forma, que nós próprios não entendemos qual é.

12 - Será que a paixão não foi tão forte exatamente por ter sido proibida? Será que a teoria de que a força do sentimento vinha da impossibilidade de vivencia-lo não estava certa?

Pode ser. Tudo que é proibido é mais interessante, não? A Liliane era (e ainda é) muito voluntariosa. Adora um desafio. Primeiro ela se apaixonou por mim. Quando soube do hiv, acho que isso operou uma adrenalina na cabeça dela, como se ela estivesse entrando em contato com alguma forma de transgressão. E era uma forma de transgressão. Imagina, você ter 16 anos e assumir um cara de 41 anos e ainda por cima hiv! Haja transgressão! Esse foi um dos aspectos que fez com que eu me apaixonasse ainda mais por ela: a coragem. Ela nunca baixou a guarda para o preconceito e nunca deu bola para o que as pessoas, incluindo sua família, falavam.

13 - A relação de vocês teve que ser conduzida com algum cuidado especial, além do uso de preservativos, por conta da doença?

Sim, os cuidados de praxe. No início, numa das vezes em que nos beijamos, ela cortou a boca com o aparelho que usava. Sofremos com isso, e por um longo tempo pensamos que ela pudesse ter se contaminado. Muito tempo depois ela fez o teste e comprovou que não tinha havido contaminação. Mas convivíamos com esse medo.

14 - Aquele período em que você parou de tomar o coquetel trouxe consequencias para a sua saúde?

Sempre que eu parei – e foram quatro vezes -, as consequências começaram a aparecer logo depois. Neste momento eu estou com a medicação interrompida. Minha infectologista ligou outro dia e me deu uma bronca por telefone. Ela está coberta de razão. Mas eu estou bem. Sou movido a novos projetos e no momento estou muito envolvido com os livros de filosofia e sociologia que estou editando. Eu costumo dizer que não tenho tido tempo de ficar doente. Mas sei que não é bem assim. O certo é tomar o coquetel corretamente, se alimentar bem e manter a cabeça em níveis saudáveis. Tenho razões para crer que minha cabeça ajuda bastante a me manter com a saúde legal.

15 - Que balanço você pode fazer para a gente sobre toda essa história?

O balanço é o de que não me arrependo de nada. Que tenho muito orgulho do meu trabalho, dos livros que escrevo e leio, dos filmes que assisto, das músicas que ouço, das pessoas que passaram pela minha vida, das pessoas que estão na minha vida. E que tenho muita pena das pessoas preconceituosas, criaturas menores, mesquinhas e egoístas, que nunca vão se dar conta da mediocridade em que vivem.

16 – Se o livro fosse escrito hoje, quais seriam suas últimas frases?

Acho que eu manteria as duas últimas linhas do livro, que na sua aparente simplicidade, criam um final cinematográfico. Pelo menos para mim:

“Açúcar ou adoçante, senhor”, ela perguntou.

“Adoçante. Dois sachês, por favor”.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Entrevista com Samiz Thomaz - Parte 2

Olá, minha gente!!! Com um dia de atraso (peço desculpas, mas a semana começou com a correria tipica de São Paulo), confiram a segunda parte da entrevista exclusiva com Samir Thomaz.

Ele é
autor de Meu Caro H (o livro em que o autor tornou pública a sua experiência ao saber que era portador do vírus HIV) e Te Espero o tempo que for (livro em que o autor conta sua história com o amor da segunda parte de sua vida e toda dificuldade que encontraram por conta do HIV).

Para entender como rolou toda a história dessa entrevista, clique aqui.

Confira a segunda parte da entrevista:


6 - Depois que o livro acaba, bate uma curiosidade imensa para saber o que aconteceu depois. Resuma alguns fatos marcantes sobre a vida de vocês depois do último episódio contado no livro.

O que aconteceu depois de 2005 e 2006, o período narrado no livro, foi que passamos a nos encontrar primeiro em Botucatu, onde ela fazia cursinho, e depois em Bauru, onde ela passou a fazer faculdade. Ou seja, passamos a ter um namoro clandestino.

Não é uma vida que eu desejaria para o meu maior inimigo. Vivíamos sempre com medo, pois o pai dela sempre disse com todas as letras que se soubesse que nos encontrávamos, mataria os dois. Esse foi o tom do namoro nesses últimos anos. Enfim, sobrevivemos a tudo isso.

O que ficou foi a memória de ter vivido uma história de amor intensa e proibida. E eu, como narrador vocacionado, não poderia deixar de colocar essa história no papel.

7 - Você se viram mais vezes ou namoraram todos esses anos só pela internet?

Nós nos víamos a cada dois meses. E conversávamos diariamente pelo celular várias vezes ao dia, conforme é narrado no livro. Ela veio a São Paulo duas vezes durante esse período, também clandestinamente.

8 - Você nunca mais viu a família da Liliane? Eles foram contra o relacionamento de vocês até o final?

A questão, para eles, era o hiv. Uma questão que envolve sentimento religioso e zelo pela filha. Eu nunca questionei a legitimidade desse zelo, apenas a forma como eles o conduziram. Eles me trataram bem nas duas vezes em que fui lá, em 2005, mas ao saberem do vírus, radicalizaram e proibiram o namoro.

O pai dela chegou a me ameaçar de morte caso eu aparecesse por lá. E tem a cena de violência extrema sofrida por ela, em julho de 2006, por causa do namoro. Foi uma dos trechos mais dolorosos de ser escrito. Mas exceto nesses momentos de violência contra ela, eu nunca senti raiva ou ódio deles.

São pessoas honradas e honestas que apenas reproduzem o padrão de comportamento que herdaram de seus pais. E, em último caso, eu me apaixonei pela filha deles. O que me encantou na personalidade dela é fruto da educação que eles deram a ela.

9 - Acha que toda essa luta contra vocês acabou atrapalhando tudo?

Atrapalhar, atrapalhou. Mas eu fico pensando se tudo não teve um sabor especial justamente por causa da proibição. Eu sabia que não se tratava de uma situação comum. Eu tinha 41 anos, ela 16. Eu era soropositivo e separado; ela era filha de pais católicos extremados e tinha a idade da minha filha.

Eu sabia que não encontraria vida fácil. Ao mesmo tempo, não consegui evitar a paixão diante de uma garota tão corajosa e fascinante. Minha atitude envolvia sentimento. Eu não era um sacana, um pedófilo, como algumas pessoas chegaram a me chamar, pegando uma adolescente indefesa. E nem ela era uma menina ingênua, que não sabia o que estava fazendo. A Liliane era bem madura. Em geral as mulheres são mais maduras do que os homens. Chego a dizer que em alguns aspectos ela era mais maduro do que eu.

10 - Se você não fosse soropositivo e Joyce chegasse e casa um dia, te chamasse para conversar e te contasse que estava namorando um homem da sua idade e portador do vírus HIV, qual seria sua reação?

Seria negativa, claro. E iria precisar de um tempo para aceitar a situação. Mas ouviria os dois. E se sentisse que o cara estivesse bem intencionado, não me oporia. Mas isso é uma hipótese. As coisas em geral não ocorrem dessa forma tão simplista como eu coloquei.

Esse tipo de situação normalmente vem investido de uma complexidade com a qual nem sempre a gente sabe lidar. Eu compreendo o embaraço que causei aos pais da Liliane.

Mas não compreendo a falta de abertura, de diálogo. E não compactuo com a violência usada algumas vezes por eles para tentar resolver a situação. Com o tempo, ficou claro que nossa relação era forte, que envolvia sentimento, que eu não era nenhum inconseqüente. Mesmo assim, eles nunca caminharam um centímetro no sentido de me aceitar. Foi um “não” inapelável do começo ao fim.

Achei essaa segunda parte da entrevista bem reveladora. Incrível como Samir conta a sua vida pra gente, como um livro aberto de pura realidade, né? E vocês, gostaram?

Deixem seus comentários! Sexta-feira tem a parte 3!! :)

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Entrevista com Samiz Thomaz - Parte 1

Olha eu aqui de novo!!! Vamos à primeira parte da entrevista com Samiz Thomaz, autor de Meu Caro H (o livro em que o autor tornou pública a sua experiência ao saber que era portador do vírus HIV) e Te Espero o tempo que for (livro em que o autor conta sua história com o amor da segunda parte de sua vida e toda dificuldade que encontraram por conta do HIV).

E não esqueça! Depois de publicar as 3 partes da entrevista, eu e Samir lançaremos uma promoção! Fiquem ligados!


Primeiro, conheçam o Samir

Antes de começar a ler a entrevista, nada melhor do que ver uma foto do autor. Gente, esse é o Samir:
Agora, a Entrevista - Parte 1

1 - Primeiro, queria fazer algumas perguntas sobre o Meu Caro H. Deve ter sido um divisor de águas lançar um livro autobiográfico sobre a entrada do vírus HIV na sua vida. Hoje, analisando tudo o que ocorreu depois disso, você acha que o lançamento do livro trouxe mais coisas boas ou ruins? Você sofreu muito preconceito? Ainda é difícil para você lidar com esse assunto?

É verdade, minha vida se divide entre antes do Meu caro H e depois. Na verdade, antes do hiv e depois dele. O que posso dizer, passados doze anos do diagnóstico da síndrome e dez anos da publicação do livro, é que a vida é um caminho sem volta. Sou existencialista até a medula, portanto acredito que somos aquilo que realizamos concretamente. A minha postura, passada a fase inicial do medo de morrer e de não poder estar ao lado das pessoas que amo, sempre foi uma postura de combate, de luta.

Antes de tudo, lutar para viver. Mas também lutar para manter a dignidade, para manter a autoestima em níveis aceitáveis, para enfrentar o preconceito que eu sabia que viria. E em última instância, lutar para continuar ao lado das pessoas que amo. Nesse sentido, o livro foi uma terapia para inventar a coragem. Quanto ao preconceito, de qualquer tipo, ele é fruto da ignorância de quem o pratica.

Nós vivemos num país culturalmente atrasado, portanto eu nunca tive a ilusão de que não fosse ser olhado de viés e até com piedade por algumas pessoas. Mas sempre lidei de forma corajosa e transparente com a síndrome e com o preconceito.

No caso do hiv, a primeira coisa que a pessoa diz é que você está com os dias contados. Pois é, há onze anos estou com os dias contados. Nesse onze anos, continuei trabalhando, fiz uma graduação de jornalismo, uma pós-graduação em ciências sociais, escrevi cinco livros e namorei por quatro anos uma garota interessante.

2 - Hoje, percebe-se que há muito menos tabu em relação ao vírus do que na época em que você o contraiu. Dá para levar a vida normalmente com o vírus, por conta do coquetel? Você sente algum efeito colateral ou fica com a saúde fragilizada às vezes? Penso que hoje a medicina avançou tanto que é possível ser soropositivo por décadas e décadas, vivendo de maneira absolutamente normal. Estou certa?

Sim, está certa. A Aids hoje é considerada uma doença crônica, ainda que bastante letal, mas crônica. Sempre pergunto à minha infectologista se ainda morre gente de Aids. Ela diz que sim. E não pouca gente. No meu caso, nunca tive efeito colateral e nem posso dizer que sou um modelo exemplar de paciente. Por diversas razões negligenciei a tomada do coquetel nesses dez anos e em razão disso estou na minha quarta medicação, indo para a quinta. É aquela história, às vezes você está tão detonado emocionalmente que não levanta para tomar o último medicamento da noite, ou esquece de tomá-lo.

E não tomar um dos componentes do coquetel é o mesmo que não ter tomado os outros, afinal o coquetel é uma combinação de drogas. Não recomendo que se faça isso. Se eu pudesse, não faria. Mas o aspecto emocional às vezes supera a razão. Eu vivo muito intensamente, apesar de ser um sujeito aparentemente pacato. No fim de 2007, cheguei à situação de não haver no mercado brasileiro uma medicação que fizesse efeito no meu organismo. O vírus havia criado resistência contra todos eles.

Cheguei a tomar por um mês uma medicação autoinjetável, importada via autorização judicial, o que no meu caso não funcionou. Quem leu Meu caro H tomou conhecimento da minha ojeriza por agulhas. Injetar a medicação em mim mesmo, fala sério... Estou prestes a iniciar uma nova medicação. Nesse sentido, me considero uma pessoa de sorte.

3 - Como é a relação com sua filha? Você passou a adotar cuidados especiais na sua casa depois de descobrir que era soropositivo, certo? Essa situação acabou trazendo pontos positivos em relação à maneira com que você criou Joyce? Vocês são amigos, falam abertamente sobre todos os assuntos? Acha que seria assim se nada disso tivesse acontecido?

Minha relação com a Joyce é ótima. Ela é o meu grande estímulo. Sempre que a barra pesa, a lembrança dela é que me segura. Ela é fruto da educação que eu e a Naide demos pra ela. Ou seja, cresceu entre livros, ouvindo muita MPB, rock, jazz, pop rock, ouvindo discussões sobre política, arte, etc. Disso resultou uma menina de cabeça aberta, generosa e inteligente.

A Aids nunca fez a menor diferença para ela. Neste momento ela está envolvida com a graduação de desenho industrial que faz e com o primeiro emprego na área de design gráfico e me liga todas as noites para contar as novidades. Uma vez por semana vou ao Mackenzie para tomar um café com ela. Saio de lá renovado.

4 - Antes de saber que você era portador do vírus HIV, você tinha preconceitos, era uma dessas pessoas que achava que ser soropositivo era um bicho de 7 cabeças ou já era bem informado e encarava a doença como encara hoje?

Quando surgiu, na década de 1980, a Aids era um terror. Tomar contato com um soropositivo, conforme eu narro no Meu caro H, era um acontecimento marcante. Você olhava a pessoa sabendo que ela já não existiria dali a algum tempo.

Se fosse um soropositivo sintomático, ou seja, que já estivesse com os sintomas explícitos no corpo, aí o pavor se multiplicava. Eu tinha sim preconceito, embora tivesse tido contato apenas com as duas pessoas que menciono no livro – que morreram em seguida, aliás. Mas meu preconceito se restringia a essa forma de pavor. Com o tempo, ao ver que meus ídolos da cultura pop – principalmente os cantores Cazuza, Renato Russo e Fred Mercury e o escritor Caio Fernando Abreu – tinham Aids, o medo logo se converteu em solidariedade.

5 – Bom, agora vamos falar do seu outro livro, que trata da Aids, Te espero o tempo que for, lançado em 2009. Nesse livro você narra o namoro tumultuado com uma garota de 16 anos que conheceu na internet. Você e a Liliane ainda estão juntos?

Sim e não. Nós terminamos há coisa de dois meses. Era previsível e esperado diante de um namoro tão cercado de tabus, preconceitos, sem contar a questão da distância – ela mora na região de Botucatu, no interior de São Paulo. Por outro lado, ela me liga todas as noites pedindo colo, o que me faz um bem danado (e imagino que também a ela), porque nós temos uma ligação muito forte.

A questão é que nossas vidas têm ritmos diferentes. Ela está com 21 anos e faz o terceiro ano de odontologia na USP. Eu estou numa fase mais voltada para o trabalho. Não sei como chamar esse tipo de relação. Não é mais namoro. Mas também não é só amizade.

Ontem mesmo ela me convidou para ir para a Itália no ano que vem. Eu disse que só se ela fosse para Buenos Aires comigo este ano. Ela aceitou. De minha parte, ela é o grande amor da segunda parte da minha vida (a da primeira parte foi a Naide). E eu só tenho a agradecer pela relação de quatro anos e meio que tive com ela. É uma garota muito especial.

Adorei a primeira parte da entrevista. E vocês?

Deixem seus comentários! Segunda-feira tem a parte 2!! :)