segunda-feira, 12 de maio de 2014

Precisamos falar sobre o Kevin - Lionel Shriver - Ed. Intrínseca


Demorei mais do que de costume para ler esse livro. Levei exatos 10 dias. Não só por conta da densidade da leitura, mas porque ela me tocou fundo de uma maneira tensa, me desestruturou, me deixou agoniada e bastante chocada, muitas vezes. Depois que nos tornamos mães, acho que acabamos sentindo na pele um pouco da dor de toda mãe. Pelo menos, é assim que eu me sinto. Sempre fui de me colocar no lugar dos outros e, com relação à maternidade, talvez por conta do amor louco e do senso de responsabilidade que sentimos em relação àquele ser dependente de nós, esse "costume" de me colocar no lugar e de sentir um pouco a dor/alegria/decepção/orgulho do outro seja meio perturbador.Tendo em vista a história desse livro, é perturbador demais.

Eva é uma mulher independente e bem sucedida profissionalmente, exatamente como eu. Adorava viajar e curtir as noites dando risada e bebendo um bom vinho, exatamente como eu. Até que planeja e decide engravidar, exatamente como eu. Depois disso, tks God, as semelhanças acabam. Kevin, seu filho, já nasce despertando algo sombrio em sua mãe. Já nasce desafiando-a, rejeitando seu leite, chorando o dia inteiro e fazendo birras em atitudes - que são  muito piores que as birras de palavras e chiliques - sempre que podia.

Ele tinha um olhar de lado, um meio sorriso sarcástico. Mostrava-se muito inteligente e dissimulado desde cedo, acendendo em sua mãe um alerta vermelho que ela tinha medo de ser falta de amor, falta de instinto materno. E se culpava por isso, muitas vezes. Que situação horrível você ter um filho e não se identificar em nada com ele! Que triste você não sentir nada de harmonia na família que você construiu. E o pior ainda é ver, diante dos seus olhos, a ruptura do seu casamento por conta da opinião do pai de Kevin de que Eva perseguia o filho, era exagerada e não dava valor para o bebê maravilhoso que eles tinham em casa.

Franklin só esqueceu de levar em conta que instinto de mãe nunca erra.

No começo, a história foi um pouco difícil de seguir por conta da linguagem um pouco mais formal da autora, que sempre acaba distanciando um pouco a história do leitor. Depois que acostumei, tudo fluiu normalmente, e no decorrer da história tudo vai ficando cada vez mais denso e sombrio. Kevin é um daqueles espíritos perturbados que já nascem com vontade de fazer o mal, não importa o que os pais tentem fazer para mudar isso. Mas, mesmo assim, deve ser um carma surreal ser mãe de alguém assim, a quem você se dedica, dá amor, tenta educar e que, no fim, só consegue devolver desprezo e malignidade.

Como o livro é grande e eu sentia que teria muito choque durante a leitura, não aguentei esperar e fiz algo que NUNCA faço. Quando estava na metade do livro, dediquei uma noite a assistir ao filme. Por um lado foi uma experiência boa, que fez eu mergulhar mais na história, por outro foi ruim, porque já sabia a grande surpresa e reviravolta do final. Mesmo interrompendo o livro na metade, vendo o filme e voltando ao livro, achei o livro INFINITAMENTE melhor.

A descrição da matança a flechadas dos colegas escolhidos a dedo por Kevin foi muito bem narrada no livro. O conflito de sentimentos daquela mãe, depois do segundo choque do dia, descobrindo que seu filho é um assassino ainda muito pior do que ela tinha imaginado, foi de cortar o coração. Dá mesmo para perceber que a autora, uma psicóloga, realizou
um extenso trabalho de pesquisa da mente e do comportamento desses jovens responsáveis por chacinas que abalaram o mundo, para então traçar o perfil de Kevin. Essas matanças em escolas são até citadas no livro, que foi bem original em focar na mãe do assassino, ao invés de falar apenas do jovem, como tantas outras obras. Porque que o criminoso tem um parafuso a menos, a gente já sabe, mas ninguém nunca pensou como é ser mãe de uma pessoa assim.


Sobre a Autora

Lionel Shriver (cujo nome de nascimento é Margaret Ann Shriver) nasceu em 18 de maio de 1957. É jornalista e escritora. Nasceu em Gastonia, Carolina do Norte, EUA, no seio de uma família extremamente religiosa, sendo o seu pai pastor Presbiteriano. Mudou o seu nome quando tinha 15 anos (de Margaret Ann para Lionel) porque gostava da forma como soava. Frequentou a Universidade de Columbia. Já viveu em Nairobi, Bangcoc e Belfast. Neste momento, divide o seu tempo entre Londres e Nova Iorque. Colabora com diversos jornais, entre outros, The Wall Street Journal, The Philadelphia Inquirer e The Economist. É casada com um músico de jazz.

Fonte: Wikipedia

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