
Resenha enviada pela querida Elaine Gaspareto, do blog Um pouco de mim...
Quando adquiri o livro eu esperava que ele falasse da 2ª Guerra sob o ponto de vista de uma sobrevivente. Acontece que a autora faz mais que isso: ela nos mergulha em um período da história que ainda hoje tem páginas pouco conhecidas. O relato de Agnès é fresco, vívido, cheio de detalhes como só poderia conter um livro escrito por alguém que viveu na pele(literalmente) os horrores do Nazismo. O livro começa quando da invasão da França pela Alemanha de Hitler.
A partir deste momento, muda completamente a vida da historiadora de arte Agnès Humbert. Juntamente com seus colegas do Museu do Homem em Paris, Agnès fundou um dos primeiros grupos de resistência francesa, que foi o jornal Résistance. Em 1941, Agnès e os membros de seu grupo são traídos por um espião e entregues à Gestapo. Sete homens foram presos e fuzilados e as mulheres foram deportadas para a Alemanha como trabalhadoras escravas.
O livro apresenta uma seqüência de fotos interessantíssimas, inclusive, uma foto tirada no dia 24 de junho de 1940, com Adolf Hitler e seu grupo desfilando próximo a torre Eiffel até o Museu do Homem, além de fotos da própria autora.
Resistência é um testemunho vigoroso e contundente da oposição à ocupação nazista na França e dos desdobramentos trágicos que culminaram em prisão, deportação e mesmo execução daqueles que militaram contra o governo de Vichy. Escritas, em boa parte no calor dos acontecimentos, as anotações de Agnès Humbert nos possibilitam acompanhar cada passo dos primórdios do movimento intelectual criado por ela e batizado em uma de suas cartas como Resistência.
Em "Resistência", esses eventos são descritos com um imediatismo pulsante, que percorre cada página do diário secreto de Agnès, publicado inicialmente na França em 1946 e depois esquecido. Até a sua captura, nos primeiros meses de 1941, Agnès registrou os fatos dia após dia, e suas anotações nos permitem acompanhar cada passo dos primórdios da Resistência. Feita prisioneira, ela não tinha mais como escrever em seu diário. Contudo, ao ser libertada em 1945, dedicou-se a repassar os fatos em sua memória para registrálos ainda no calor dos acontecimentos.
A riqueza da narrativa
Com humor, inteligência e ironia, Agnès constrói uma narrativa única, um ponto de vista original sobre esse período obscuro e dramático do século XX. A delicadeza de suas observações cativa o leitor. Apesar de fisicamente debilitada e espiritualmente exausta, ela ainda é capaz de se preocupar com a saúde da mãe e a situação dos filhos. Quando seu filho Pierre a visita na prisão de Fresnes, Agnès se ressente da degradação daquele momento e lamenta consigo mesma por não poder evitar que ele tome parte naquele teatro do absurdo.
Recusando-se, inclusive nos dias mais duros, a ceder e a abandonar sua compaixão, Agnès revela aos poucos, com habilidade e um toque de sarcasmo, a profundidade de seu ultraje e de suas convicções. Escrito com o vigor dos eventos recém-vividos, Resistência é o testemunho do espírito indomável de uma mulher, e um tributo eloqüente ao sacrifício e à coragem dos seus camaradas que não sobreviveram.
Como diz Marina Colasanti no prefácio de Resistência:"As mulheres sempre perdem a guerra. Não a querem mas a perdem. O livro de Agnès(...) consegue não ser um livro de perdas."