sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A Tragédia da Rua da Flores - Eça de Queiroz - Livros do Brasil

Silvia Calçada, leitora assídua e super participativa aqui do blog, escreveu uma resenha super legal sobre a obra. Ela sempre comenta meus posts por e-mail e eu adoro cada vez que vejo que minha caixa de entrada tem mais uma participação sua.

Confiram as palavras de Silvia sobre o clássico:

Muito antes de Hitchcock nascer, Eça poderia ter sido considerado o mestre do melodrama de suspense.

A despeito da falta de música, o ritmo da perseguição de Timoteo à Genoveva envolve o leitor de modo que este passa a fazer parte do cenário, sentindo-se também ele, o leitor, manipulado por Timoteo, o único a deter a clareza dos fatos. Protagonista e vilã, ambos prezam acima de tudo Vitor, jovem de vinte e dois anos, futuro advogado, herdeiro de Timoteo.

A sutileza com que o autor vai revelando os prenúncios da tragédia é digna do melhor dos trillers. Genoveva, aos dezesseis anos, é casada com Pedro em Lisboa, foge com outro homem e percorre uma carreira libertina como cortezã. Em Paris, sobrevive e ascende explorando os próprios dotes em detrimento do patrimônio do sexo oposto.

Retorna a Lisboa, aos trinta e oito anos e, já nos primeiros capítulos o ressentimento de Timoteo é expressado por palavras rancorosas que profere ao ver Mme de Molineux desembargando para ocupar sua nova residência, no quarto andar de um sobrado na rua das Flores. Não a reconhece de imediato. Mostra-a paulatinamente a si mesmo. Em princípio odeia-a por envolver-se com o sobrinho Vitor a quem ama, porém substima, tentando controlar seus gestos e sentimentos.

Ao descobrir que Genoveva e Mme. de Molineux são a mesma pessoa, Timoteo continua no controle não permitindo que Vitor descubra que a paixão que o arrebatara viera de sua própria mãe.

Eça, modestíssimo


Embora essa obra não tenha sido revisada pelo autor, ele mesmo a considera o melhor de seu legado: "uma verdadeira bomba literária e moral"... modestíssimo.

Longe de ser mais uma historinha sobre incesto baseada no mito de Édipo, a Tragédia da Rua das Flores traz em seu arcabouço, o decadente colonizador Europeu, a mediocridade de uma burguezia que se corrompe por dinheiro, colocando-o acima da espiritualidade, e o início de sua derrota intectual e filosófica diante da qual assistíamos os valores modernos misturarem-se com comportamentos tradicionais, em diálogos falaciosos, nos quais protagonista e antogonista, por cobiçaremm cada vez mais poder, acabam ambos por carregar o peso da própria mesquinhez.

É uma verdadeira arca de Nóe para os que estudam o fascismo a fim de criar meios de evitá-lo do ponto de vista profilático.

Tenho 50 e Odeio Timoteo

Fosse nos dias de hoje, Eça poderia ter partido dessa "ficção" para desenvolver uma tese de mestrado sobre o controle das massas, por meio do uso da força e da repressão libidinal, além do cerceamento econômico, claro. Li aos vinte e dois anos. Tenho cinquenta e ainda odeio Timoteo.

É uma obra ao mesmo tempo particular e plural. Eça remeteu-se aos gregos para escancarar as chagas de um Lisboa que, pouco após, autoritária entrégasse aos desmandos de um Salazar. Está tudo ali. Moralismo,burquesia, hipocresia e ganância, da cegueira do povo é que nasce o líder.

A Tragédia da rua das Flores é uma das mais lindas metáforas sobre o valor da razão.

Sobre o Autor


Diplomata e escritor muito apreciado em todo o mundo e considerado um dos maiores escritores portugueses de todos os tempos, Eça de Queirós nasceu José Maria Eça de Queirós, em Póvoa de Varzim-Portugal, no dia 25 de Novembro de 1845. Seu nome muitas vezes tem sido, de forma equivocada, grafado como "Eça de Queiroz".

Eça de Queirós morreu em Paris-França, no dia 16 de Agosto de 1900 (Funeral em Lisboa - 17 de Agosto)

Era filho do Dr. José Maria Teixeira de Queirós, juiz do Supremo Tribunal de Justiça, e de sua mulher, D. Carolina de Eça. Depois de ter estudado nalguns colégios do Porto matriculou-se na faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, completando a sua formatura em 1866. Foi depois para Leiria redigir um jornal político, mas não tardou que viesse para Lisboa, onde residia seu pai, e em 1867 estabeleceu-se como advogado, profissão que exerceu algum tempo, mas que abandonou pouco depois, por não lhe parecer que pudesse alcançar um futuro lisonjeiro. Era amigo íntimo de Antero de Quental, com quem viveu fraternalmente, e com ele e outros formou uma ligação seleta e verdadeira agremiação literária para controvérsias humorísticas e instrutivas. Nessas assembléias entraram Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Salomão Saraga e Lobo de Moura.

Estabeleceram-se então, em 1871, as notáveis Conferências Democráticas no Casino Lisbonense (V. Conferência), e Eça de Queirós, na que lhe competiu, discursou acerca do "O Realismo como nova Expressão de Arte", em que obteve ruidoso triunfo. Decidindo-se a seguir a carreira diplomática, foi a um concurso em 21 de Julho de 1870, sagrando-se o primeiro colocado e, em 1872, obteve a nomeação de cônsul geral de Havana, para onde partiu. Permaneceu poucos anos em Cuba, no meio das terríveis repressões do governo espanhol.

Em 1874 foi transferido para Newcastle; em 1876 para Bristol e, finalmente em 1888, para Paris, onde veio a falecer. Eça de Queirós era casado com a Sr.ª D. Emília de Castro Pamplona, irmã do conde de Resende. Colaborou na Gazeta de Portugal, Revolução de Setembro, Renascença, Diário Ilustrado, Diário de Notícias, Ocidente, Correspondência de Portugal, e em outras publicações.

Para o Diário de Notícias escreveu especialmente o conto 'Singularidades duma Rapariga Loura' (1873), publicada como 'livre brinde' aos assinantes do jornal, em 1874, e a descrição das festas da abertura do canal do Suez, a que ele assistiu em 1870, publicada com o título 'De Port Said a Suez', no referido jornal, folhetim de 18 a 21 de Janeiro do mesmo ano de 1870. Na Gazeta de Portugal, de 13 de Outubro de 1867, publicou um folhetim com o título 'Lisboa', seguindo-se as 'Memórias de uma Freira' e 'O Milhafre'; em 29 de Agosto de 1869, o soneto 'Serenata de Satã às Estrellas'.

Fundou a Revista Portugal com a colaboração dos principais e mais célebres homens de letras do seu tempo. Saíram desta revista 24 números, que formam 4 tomos de 6 números cada um. Para este jornal é que escreveu as 'Cartas de Fradique Mendes'. Na Revista Moderna publicou o romance 'A Ilustre Casa de Ramires'.

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Se você também quer participar da Resenha do Leitor, entre em contato pelo carla.martins16@gmail.com. Vou a-d-o-r-a-r! :)

11 comentários:

  1. Gosto muito de Eça,e esse livro é mesmo fantástico.Um abraço.

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  2. Resenha excelente!!!
    Sua leitora está de parabéns:)
    Bj

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  3. nossa, esse eu não li. beijos, pedrita

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  4. valeu a dica,caracas que trama rsr
    bjs tenha um otimo final de semana querida

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  5. Olá Carla,
    Tens um selo á tua espera no meu blog .
    bjinhos
    Bom fim-de-semana

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  6. Ainda não li esse livro, mas está aqui comigo entre as pendências, rs.
    É a primeira vez que entro aqui, adorei o blog!
    bjs.

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  7. Olá!
    Boa semana pra vc Carla.
    E Eça ainda não me laçou, maybe another time.
    Beijos

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  8. Bom diaaa

    Tem promoção Kit pampers no blog, vai ficar de fora dessa?
    bjsss boa semana

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  9. Acredita que nao tinha ouvido falar nessa obra do Eça!!! Perdoe-me! rs

    Xerus
    =***

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