sábado, 16 de maio de 2009

Navalha na Carne - Plínio Marcos - Ed. Azougue



Levada aos palcos pela primeira vez em São Paulo, em 1967, com Walmor Chagas e Cacilda Becker, a peça ganhou mais repercussão a partir da montagem carioca, dirigida no mesmo ano por Fauzi Arap. O texto foi censurado pela ditadura militar e só pôde ser encenado 13 anos depois.

Como forma alternativa de divulgar a obra, o elenco original - Paulo Villaça, Ruthinéia de Souza e Edgard Gurgel Aranha - se reuniu com o escritor Pedro Bandeira e criou uma encenação fotográfica da peça, que foi transformada em livro.

A adaptação para livro manteve a densidade e o clima pesado da peça. Mostra, de forma nua e crua, a podridão, falta de dignidade e a pobreza que imperam no submundo da sociedade brasileira. Assim como Cidade de Deus, Central do Brasil e Trpa de Elite, cada página lida de Navalha na Carne é um tapa na cara de quem leva a vida com conforto e nem imagina essa realidade paralela, existente a pouco metros de distância da nossa casa.

A personagem principal, Neusa Suely, é uma prostituta sem o menor amor próprio, que já tem idade avançada e vende seu corpo para sobreviver. "Será que somos gente?" é a frase que mais faz pensar no livro, porque viver desse jeito é pior do que não viver. Qual nosso papel na sociedade? O livro faz refletir muito sobre isso e sobre até que ponto o ser humano se corrompe por dinheiro e vícios.

Já Wado representa a sociedade machista, cheia de preconceitos, mas que também não tem moral nenhuma para julgar e que, por isso, é facilmente desarmado ao primeiro sinal de força e enfrentamento.


Li o livro inteiro nas horas em que caminhava e fazia bicicleta na academia do meu antigo prédio, há uns 2 ou 3 anos. Lembro que o trecho que eu li no dia ficava martelando na minha cabeça por algumas horas. O livro é forte, penetra fundo no leitor. Se você procura intensidade, leia Navalha na Carne! Pena que eu não pude ver a peça na época em que foi lançada...só se assisti na encarnação passada...heheheheh

Para finalizar, reproduzo aqui o final da crítica feita por SÁBATO MAGALDI, em O Estado de São Paulo, a 12/09/1967. Apesar de se referir à peça foi, para mim, a frase que melhor define o que li:

"Navalha na Carne fere mesmo – como toda verdade lançada com indiscutível talento artístico."

No Cinema

NAVALHA NA CARNE – 1ª adaptação
Título: A Navalha na Carne
Direção: Braz Chediak
Atores: Glauce Rocha, Jece Valadão, Emiliano Queiroz, Carlos Kroebe
Fotografia: Hélio Silva
Duração: 112 minutos
Ano: 1969

NAVALHA NA CARNE – 2ª adaptação
Título: Navalha na Carne
Roteiro: Neville D`Almeida
Direção: Neville D`Almeida
Atores: Vera Fischer, Jorge Perugorría, Carlos Loffler, Isabel Fillardis, Marcelo Saback, Pedro Aguinaga, Guará Rodrigues, Rafael Molina
Fotografia: César Elias
Duração: 105 minutos
Ano: 1997

Sobre o Autor

Plínio Marcos dispensa comentários, né? Foi um dos maiores dramaturgos brasileiros de todos os tempos.

Em 1960, com 25 anos, foi para São Paulo, onde inicialmente trabalhou como camelô. Depois, trabalhou em teatro, como ator (apareceu no seriado Falcão Negro da TV Tupi de São Paulo), administrador e faz-tudo, em grupos como o Arena, a companhia de Cacilda Becker e o teatro de Nydia Lícia.

A partir de 1963, produziu textos para a TV de Vanguarda, programa da TV Tupi, onde também atuou como técnico. No ano do golpe militar, fez o roteiro do espetáculo Nossa gente, nossa música. Em 1965, conseguiu encenar Reportagem de um tempo mau, colagem de textos de vários autores, e que ficou apenas um dia em cartaz.

Em 1968, participou como ator da telenovela Beto Rockfeller, vivendo o cômico motorista Vitório. O personagem seria repetido no cinema e também na telenovela de 1973, A volta de Beto Rockfeller, com menor sucesso. Ainda nos anos 70, Plínio Marcos voltaria a investir no teatro, chegado ele mesmo a vender os ingressos na entrada das casas de espetáculo. Ao fim da peça, como a de Jesus-Homem, ele subia ao palco e conversava pessoalmente com a platéia.

Na década de 1980, época da censura, Plínio Marcos viveu sem fazer concessões, sendo intensamente produtivo e sempre norteado pela cultura popular. Escreveu nos jornais Última Hora, Diário da Noite, Guaru News, Folha de S. Paulo e Folha da Tarde e também na revista Veja, além de colaborar com diversas publicações, como Opinião, O Pasquim, Versus, Placar e outras.

Depois do fim da censura, Plínio continuou a escrever romances e peças de teatro, tanto adulto como infantil. Tornou-se palestrante, chegando a fazer 150 palestras-shows por ano, vestido de preto, portando um bastão encimado por uma cruz e com aura mística de leitor de tarô.

Plínio Marcos foi traduzido, publicado e encenado em francês, espanhol, inglês e alemão; estudado em teses de sociolingüística, semiologia, psicologia da religião, dramaturgia e filosofia, em universidades do Brasil e do exterior. Recebeu os principais prêmios nacionais em todas as atividades que abraçou em teatro, cinema, televisão e literatura, como ator, diretor, escritor e dramaturgo.

Morreu aos 64 anos, na cidade de São Paulo, por falência múltipla dos órgãos em decorrência de um derrame.

5 comentários:

  1. Pra dizer oi e convidar você pra me visitar também.

    http://pisaramnomeupinto.blogspot.com

    Beijo!

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  2. eu sempre quis conhecer melhor esse texto. não só não o li como nunca vi nenhum das montagens seja no teatro ou no cinema. beijos, pedrita

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  3. Oi Carla!
    Daqueles livros que estão em promoção na Harlequin, eu só conheço o Retrato Macabro, que já comprei em outra oportunidade.
    Ainda não li, mas minha mãe leu e achou ótimo! E como ela tem mais ou menos o mesmo gosto que eu, eu provavelmente vou concordar com ela!

    Bjs

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  4. queria ver no teatro, parece bom
    bjsss boa semana

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  5. já vi uma reportagem a respeito, parece mto interessante! beijos

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